Você sabe. Acho que sempre soube. Eu tinha medo de
gostar de alguém, de me envolver, de me mostrar sem disfarces. Amar dá
um medo danado. De perder a liberdade, a identidade, de se machucar, de
não saber mais voltar.
Eu estava na melhor fase da vida. Tinha certeza do que queria,
procurava um trabalho, estava bem comigo, com minha mente, com meu
corpo, com meus sonhos. Não precisava de mais ninguém, não sentia falta
de nada, nem mesmo de mim. Eu me tinha. Me curtia. Gostava da minha
companhia.
Quando era mais nova deitava a cabeça no travesseiro e ficava
pensando em encontrar alguém até pegar no sono. Queria tanto um amor. Um
homem que me amasse, que desse risada comigo, que gostasse das mesmas
músicas que eu, que não achasse bobagem meu choro nos filmes água com
açúcar, que me apoiasse e me desse a mão para andar pelas ruas. Então,
um belo dia eu ia casar com ele. Ia descer as escadas da casa dos meus
pais vestida de noiva. Ia casar, morar numa casa bonita, ter um cachorro
e um filho. E ia ser feliz pra sempre, que nem nos livros.
Então eu cresci. Cresci sem me dar conta que tinha crescido, que
tinha virado uma mulher. Porque nem sempre a gente se porta como tal.
Por medo, insegurança e covardia. Às vezes dá vontade de ser aquela
eterna menina que na hora do aperto corre para os braços da mãe. Cresci
correndo para os braços da minha mãe e pensei que mal tem? Adulto pode
sentir medo, sim. Adulto só não pode fugir. Porque a gente tem que ser
firme e atravessar cada obstáculo.
Você chegou tão suave. Foi devagar, sem que eu tivesse tempo de
pensar ou fazer conjecturas malucas. Chegou sincero. E me deu a certeza
de que quando alguém te quer faz de tudo pra te conquistar. Eu, que era
expert em lidar com cafajestes, fiquei com o pé atrás. Não sabia se
aquilo tudo ia pra frente ou se era só mais uma curtição. Então, mais
uma vez, percebi que eu estava na melhor época. E vi que não sentia
falta de nada.
Quando a gente se conheceu me deu um embrulho no estômago. Depois,
fui me acalmando. Aos poucos, as coisas foram entrando nos eixos. Você
segurou a minha mão, me beijou, te abracei, você beijou a minha testa. E
ali selamos alguma coisa que eu não sabia o que era. Naquele momento,
surgiu a cumplicidade. E uma vontade enorme de que o tempo parasse por
alguns segundos. Minutos. Horas. Dias. Meses. Anos. Daquele dia em
diante, nunca mais nos separamos. Daquele dia em diante, fomos nos
conhecendo através de emails longos que falavam do passado. Daquele dia
em diante, várias conversas falavam do presente. E muitos beijos
anunciavam um futuro que nos esperava de braços abertos.
Comecei a perceber que eu não me conhecia tanto assim, pois quando
você chegou descobri que faltava tudo. Encontrei e reencontrei pedaços
meus. Me vi em seus olhos, em seus abraços, em suas palavras. Me vi de
novas formas. Formas tão boas. Formas tão minhas, tão suas. Descobri que
posso muito mais do que imagino. E que nunca vai faltar um abraço para
me acolher, um apoio para me encorajar, um carinho para me encontrar.
Já passamos por tanta coisa juntos. Isso faz com que nosso amor fique
mais e mais bonito. Mais e mais forte. Mais e mais sereno. Porque o
amor não é gritaria, é silêncio. Não é gargalhada, é sorriso. Não é
rock, é bossa nova.
Hoje, quando deito a cabeça no travesseiro, sinto seus braços me
envolvendo. E eu nem preciso pensar em nada para pegar no sono. Ele vem
de forma natural. Porque não me falta mais nada.
Clarissa Corrêa